quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Quanto custa o sorriso de uma criança?


E então: quanto custa o sorriso de uma criança. Sei lá quanto custa isso! Mas, no caso em questão, custou R$ 1,38. Isso mesmo, paguei hoje a bagatela de 1,38 pelo sorriso de uma criança. E, que lindo o sorriso dela!
A coisa se deu mais ou menos assim: eu estava passando minha compra pelo caixa, ao mesmo tempo em que, acompanhava o que acontecia no caixa vizinho, onde um menino pegava um Batom (chocolate) que estava colocado estrategicamente bem nas fuças dele, e alcançava pra mãe, que colocava as compras sobre o balcão. Em resposta, ela dava um tapa na mão do garoto e devolvia o chocolate à prateleira. O menino repetia o gesto dele e a mãe, o dela.
Eu, que já tinha até quitado minha conta, peguei dois chocolatinhos que paguei com duas moedas, e falei pra operadora dar ao garoto. O sorriso que ele abriu diante do docinho foi uma coisa formidável.
Pensando bem, não importa quanto custa fazer sorrir uma criança, porque o sorriso de uma criança não tem preço!


domingo, 2 de agosto de 2015

A malandragem que campeia à solta


Quando entrei no banco para fazer um depósito em pagamento a um serviço, ele estava na porta. Quando saí, ele continuava lá, apoiado sobre as muletas com seu ar desconsolado. Percebi que as pessoas passavam por ele indiferentes ou lançavam-lhe um olhar de enfado. Pensei comigo que aquele homem velho deveria estar em sua casa amparado pela previdência e não ali, na porta do banco, mendigando. Cheguei perto dele e perguntei de sua aposentadoria e ele me respondeu que estava aguardando a liberação. Estendi-lhe um trocado e segui em frente.
Cerca de 10 minutos depois, na porta dos Correios, uma mulher pedia dinheiro, não com a boca, com os dedos apontados, enquanto emitia um som estranho, como quem não consegue falar.
E logo, uma outra situação: sentado numa cadeira alta sobre o canteiro da praça, o malandro chamava a atenção das pessoas, com seu discurso: “ei, meu rei, ei minha rainha! Paga um café aí, dá um troco aí!”. – Cínica essa majestade, pensei.
Não precisei de mais do que meia hora e nem de andar dois quarteirões para ver essas cenas e, de volta para pegar o carro, comentei o fato com o dono do estacionamento, que riu, e me perguntou:
– E a mulher das receitas, que pede dinheiro pra comprar remédio, não encontrou com ela, não? E nem com a moça bem vestida que perdeu a bolsa e não tem como voltar pra casa?
E, então, eu entendi a indiferença das pessoas com o velho do banco, que é, na verdade, como os demais, um velho conhecido da gente que circula todos os dias por ali.
A propósito, ele é perfeitamente normal e a muleta é só um enfeite. Um enfeite que enfeita a cena e funciona, pelo menos para os que passam por ali a primeira vez.


terça-feira, 26 de maio de 2015

Uma paixão e tanto


Eu tenho um amigo que toda vez que ficava um tempo sem notícias minhas, me mandava uma mensagem bem objetiva: “Morreu, Lô?”.
Pois, agora, foi ele quem sumiu do mapa. Sumiu do Facebook, do Whatsapp, do Google... E eu devolvi a pergunta: “Morreu?”.
Não tardou para ele responder. Não morreu, não, o danado. Está vivinho da silva: “Arrumei uma namorada, Lô, e não tenho mais tempo para nada”.
Ainda não conheço todos os detalhes desse romance, mas o pouco que sei já faz dele uma história e tanto: trata-se de um reencontro após 34 anos. Ele está viúvo, ela, divorciada.
Em seu casamento anterior, ele foi muito feliz com sua Amélia. Sim, ela era literalmente uma Amélia, no jeito e também no nome. O mesmo não ocorreu com a namorada, que viveu um relacionamento infeliz do qual somente agora conseguiu se libertar.
Filhos criados, três ou quatro netos, ele – ela não sei – ainda está em atividade como professor, porém sem poupar tempo para se dedicar a esse romance que lhe faz reviver os amores e os ardores da adolescência. Reconhecendo-se apaixonado, ele está tratando de aproveitar essa paixão até a última gota. Por isso, outras atividades foram para o final da fila. As mídias sociais, por exemplo, que ele não tem mais tempo de atualizar. O que merece a minha admiração, numa época em que muitos estão tão preocupados em mostrar para os outros os registros de sua vida amorosa que se esquecem de viver sua própria felicidade.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Vaidade precoce


Dia desses a filha de uma amiga minha, prestes a completar seis anos de idade, me pediu uma boneca de presente. Quase enfartei! Que menina com mais de quatro anos quer ganhar uma boneca? Ainda dentro das fraldas, as meninas já estão desejando celular, tablet, câmera, filmadora, sapato de salto, maquiagem, roupa da moda e, entre outras coisinhas, jogos de computador, principalmente os que envolvem moda, maquiagem e dicas de beleza.
Tanto que encontrei na Internet alguns vídeos em que garotinhas de 6, de 7, de 8 anos ensinam outras garotinhas a se maquiarem, usando inclusive base e rímel, que eu pensava que fossem de uso exclusivo de gente adulta. E elas não fazem isso para ir a uma festa, para participar de um espetáculo ou para um evento de gala, mas principalmente para ir à escola.
Para essas meninas, fazer maquiagem não é uma brincadeira de criança. É a satisfação de uma vaidade a meu ver extremamente precoce. Que começa dentro de casa, sob aplausos e incentivo das próprias mães, orgulhosas da prematuridade de suas “mocinhas”. Com esse aval, as “mocinhas” estão indo muito mais além: marcam hora no salão, esticam os cachinhos com escova progressiva, fazem as unhas e – pasme – depilam as pernas.
Ao contrário dessas mães “antenadas”, não acho isso uma gracinha e não me incomodo nem um pouco de passar por quadrada, por careta ou por qualquer coisa que seja. O fato é que acho um absurdo esse estímulo à erotização infantil, que coloca em risco, inclusive, a vida das próprias garotas, vítimas frequentes de gravidez na adolescência, de distúrbios alimentares como bulimia e anorexia, e de cirurgias plásticas em corpos ainda em desenvolvimento.
Ouvi de um psicólogo que pular a infância é o mesmo que querer ler antes de começar a falar. E a infância é uma fase em que as crianças deveriam estar preocupadas em brincar, de boneca, de bola, de pular corda, de pega-pega, de qualquer coisa, e não em seguir os padrões da moda e se tornar adulta antes da hora. Mesmo que a mídia teime em vender sexualidade 24 horas por dia. E cabe principalmente aos pais impedir que essa ousadia invada sua casa.
Quanto à garotinha lá do início, a filha da minha amiga, quer saber se atendi o desejo dela? É claro que sim. Comprei uma boneca lindona, ao estilo do que ela havia pedido. Só que quatro ou cinco dias depois, ela se saiu com essa: “e um tablet, tia, você pode comprar pra mim?”


sábado, 4 de abril de 2015

Faça mil favor


Pena que uma ferramenta tão legal quanto o Facebook tenha se transformado, com o perdão da palavra, numa me#&a a maior parte do tempo.
Como eu, acho que muita gente já tirou proveito do Face para localizar amigos e parentes distantes ou pessoas com as quais perdeu o contato.
Também acho legal isso de compartilhar ideias, participar de grupos, aderir a campanhas, promover o resgate de valores, enfim, fazer coisas que contribuam para melhorar o mundo em que vivemos.
Agora, tem um tanto de gente que não tem a mínima noção disso e perde o tempo dela e o meu em compartilhar baboseiras, em postar sua rotina nada atraente (Acordei! Vou comer! Vou dormir!), em mostrar como é linda a ilha da fantasia onde vive e em atropelar a língua portuguesa.
Falando nisso, é sobre isso mesmo que eu queria falar, do quanto se escreve errado nas mídias sociais.
Mas eu não quero fazer nenhuma apologia sobre isso. Quero apenas colocar aqui alguns erros que pincei e que não tem como não rir deles:

Manifestando disponibilidade: Que tau domingo?
Desabafando: Faça mil favor!
Esperto: Colocava a máquina no alto matico!
Estimulando: Vai Ontário!
Concordando: Fases bem amiga!
Despedindo-se: Abrasso do tio!
Avaliando: É muita improquezia!
Doente: To com a garganta enflamada!
Amigo do doente: Meloras!

Aliás, será que é pra rir ou pra chorar?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Ouro de tolo


Tinha um tempo em que dar presente era um ato de amor. Eu me lembro quanto ficávamos emocionados em entregar o presente do Dia dos Pais, um modesto par de meias ou uma caixinha de lenço; e do Dia das Mães, um sabonete ou uma colônia. Depois veio a época de aproveitar essas datas para comprar algo que fosse necessário para o lar. Foi quando minha mãe equipou a cozinha com aparelhos eletrodomésticos. Até a compra da geladeira nova, do fogão, do sofá, coincidia com o Dia das Mães ou com o aniversário delas. Até elas encherem o saco e começarem a exigir umas coisinhas mais para uso pessoal.
No Natal, as crianças cujos pais podiam comprar, recebiam um presentinho, uma boneca, um carrinho, uma bola. E com um brinde agregado: a fantasia de que por trás do presente tinha a bondade de um velhinho conhecido como Papai Noel.
Hoje, dar presente virou obrigação!
O comércio faz um marketing tão pesado sobre as datas comemorativas que ou você compra o presente, ou sua consciência fica doendo pelo resto do ano. São doses cavalares de apelo à sensibilidade do consumidor.
Os dias de dar presente também se multiplicaram: Natal, Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Namorados, Dia das Crianças, Dia da Secretária, Dia da Mulher, Dia da Avó, Dia da Amizade. Aposto que você nem sabia que já tem o Dia da Sogra, 28 de abril, e o Dia do Sexo, 6 de setembro! Resumindo, o comércio obedece a esta máxima: há sempre uma festa no meio do caminho, e, com ela, a oportunidade de vender um presentinho.
Só para reforçar a prevalência dos interesses comerciais em torno das datas comemorativas, vou contar uma historinha: em grande parte do mundo, o Dia dos Namorados é comemorado em 14 de fevereiro (Valentine’s Day), dia de São Valentin, um santo devotado às causas do amor. No Brasil, a partir de uma campanha para esquentar as vendas de junho, então um mês fraco para o comércio, ficou convencionada a data de 12 de junho, véspera do dia de Santo Antonio, o popular santo casamenteiro, para homenagear os namorados.   
Eu adoro dar presente! E principalmente quando tenho oportunidade de surpreender ou satisfazer um capricho. É muito gratificante!
Porém, tenho observado que essa obrigatoriedade está deixando de ser um ato de amor: “Droga, ainda falta comprar o presente da Gisele!”; “O que vou comprar para o Gabriel, aquele gordo sem noção?”; “Essa Rita é uma chata, mas se eu não comprar nada todo mundo vai falar”; “Que azar, tirei o Jonas no Amigo Oculto e eu nem gosto desse cara!”. E mesmo resmungando as pessoas vão esvaziando as prateleiras das lojas, ora pagando, ora empurrando as contas para depois do carnaval, para depois do Natal, para o ano que vem, enfim. E satisfazendo a fome voraz do consumismo desenfreado!


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

No busão


Hoje, depois de muito tempo – digamos uns 15 anos – me enchi de coragem e tomei um ônibus do transporte coletivo. Melhor dizendo, e usando a linguagem coloquial, tomei o busão.
É claro que eu fiz isso no meio da tarde, em horário em que os ônibus circulam mais leves, com pouca lotação, e acabei até me divertindo.
Mal entrando no veículo dei de cara com gente conhecida. Lá estavam, sorrindo, logo atrás da roleta, meus amigos Fábio e Maninha, e a viagem já virou festa. A despeito dos solavancos que por pouco não me derrubaram no corredor. Mão firme no corrimão, me entretive na conversa e nem vi o tempo passar e por pouco não perdi o ponto de desembarque.
Na volta, mais um encontro inesperado, com a amiga Maria, no terminal do CPA. Foi ela quem me indicou onde embarcar, pois, embora tenha tentado, não consegui decifrar as placas da precária sinalização. Se é que não fiquei atrapalhada por conta do cheiro insuportável de urina que infesta aquele local.
Embora fora do horário de pico, não tive como não me chocar com a falta de educação de motoristas e usuários. Respeito é uma prática pouco utilizada no transporte coletivo. E faz uma falta medonha.
Do pouco que vi, posso calcular quanto desapontamento, raiva e frustração passam os usuários que lidam com a rotina do transporte coletivo, submetendo-se a empurrões, xingamentos, mau humor, desconforto, violência física e mental.
Andar de ônibus, pelo jeito, é para quem tem coragem, perseverança e, obviamente, não tem outro meio de locomoção. E para gente como eu que escolhe o melhor horário para circular e tem interesse por novas histórias para contar.